Após sustentar em 1938, uma tese sobre a aplicação da álgebra de Boole , aos circuitos de comutação elétrica, o engenheiro e matemático Claude Shannon, juntamente com seu colega dos laboratórios Bell nos Estados Unidos, Warren Weaver, formulou, ao longo dos anos 40, a chamada “Teoria da Informação”.
Nesta teoria, o termo informação era conceituado como o indicador da organização em uma mensagem, sem qualquer conotação com o significado da mesma mensagem; ou seja, a partir de conceitos aportados e adaptados da Termodinâmica, se definia informação, pela primeira vez, como um termo científico, estabelecendo ainda, através de fórmulas estatísticas e matemáticas, como poderia ser medida.
A teoria de Shannon, prescrita face a um problema comunicacional que preocupava a emergente indústria das telecomunicações, determinou, além de seu campo imediato de aplicação, toda uma conceituação e nomenclatura, ao fixar componentes em um modelo voltado para o estudo de mensagens transitando em uma estrutura comunicacional, e promoveu desde então uma visão materialista e mecanicista da informação.
Mantido o modelo de Shannon, mas retirado qualquer suporte material para o canal de comunicação, por onde trafegam as mensagens entre emissor e receptor, passou a ser também celebrado um novo modelo, mais audacioso, no qual sujeito e objeto podem assumir respectivamente o lugar de receptor e de emissor, e a informação, além de designar uma espécie de fluxo místico entre ambos, se constitui em ente informacional, representando algo do receptor ou do emissor.
Este novo modelo, endossando e endossado por movimentos históricos, como o capitalismo, o cientificismo e o tecnicismo, fomenta a tradução de qualquer objeto sensível ou não, que seja de interesse, de estudo, de pesquisa, de gestão ou de possível comercialização, em um conjunto suficiente de dados que o representem sob a forma de dados simbólicos, capazes de serem capturados, armazenados, processados e distribuídos, segundo procedimentos operacionais, também passíveis de serem codificados como algoritmos.
Por esta arriscada senda, desbravada por anos de especulação científica (lógico-matemática, teoria da informação, cibernética, teoria da complexidade) e de práxis (em pesquisa, em organização e em informatização), avança o processo de informatização: os objetos se desvanecem sob mediações informacionais-comunicacionais, e passam a ter sua “sombra” digital, computacional, tratada e manipulada por meio de sistemas formais, formulados em algoritmos; ou seja, o mundo se transfigura em dados simbólicos operados por instrumentos informacionais-comunicacionais. Progressivamente, os suportes e os produtos do trabalho humano são desconstruídos-reconstruídos segundo seus atributos informacionais-comunicacionais.
Cego, portanto, e cego de cegueira radical, é quem, vendo apenas formas processadas, não pode perceber a mesma realização superando as dicotomias pré-cibernéticas nas próprias diferenças cibernéticas. Trata-se do tipo de cegueira que o efeito de distorção da informatização espalha por toda parte nas sociedades informatizadas. De tanto processamento automático já não se consegue ver os processos essenciais. Tudo perde substância e profundidade, tudo se dimensiona em formas com funções politônicas, sejam binárias, sejam terciárias. A funcionalidade se torna um destino histórico de toda a humanidade. (Carneiro Leão, 1992, pág. 97)