Heidegger (GA27:§21) – Conhecimento e Verdade

Podemos sintetizar o que foi visto até aqui em oito teses1:

1. A verdade está de tal modo correlacionada ao ente por si subsistente que ela pode, mas não precisa advir a esse ente. No entanto, a verdade não pertence, em hipótese alguma, à consistência essencial do ente por si subsistente. Todavia, denominamos descoberta ao desvelamento do ente que possui o modo de ser do ente por si subsistente.

2. Se o ente por si subsistente é desvelado, ou seja, se a descoberta existe faticamente, então isso só acontece porque um ser-aí descobridor existe, isto é, um ente a cuja constituição ontológica pertence o ser descerrado, ou seja, o ser-um-aí. O ser-aí é um ente que é desvelado a partir de si mesmo. Denominamos descerramento a esse desvelamento do ser-aí.

3. Resultam, assim, dois modos fundamentais de desvelamento do ente: verdade como descerramento e verdade como descoberta. Esses dois modos também estão correlacionados ao ente em si manifesto de maneira totalmente diversa.

4. Essa diversidade da correlação da verdade com o ser-aí e o ente por si subsistente remonta ao fato de que também a verdade do ente por si subsistente, a descoberta, se funda no descerramento que, por sua vez, pertence à constituição ontológica do ser-aí. A descoberta do ente por si subsistente só é possível junto com um ser-aí, isto é, enquanto pertencente ao descerramento de um ser-aí.

5. Mas, como o ser-aí é essencialmente descerrado, o caráter de conjunto próprio aos seres-aí sempre aponta, a cada vez, para um ser-um-com-o-outro. O ser-aí é qua ser-aí e é essencialmente ser-com junto a…. Somente com base nesse “com” de cada ser-aí singular são possíveis os diversos modos do um-em-relação-ao-outro, um-pelo-outro, um-contra-o-outro e um-sem-o-outro.

6. No entanto, como a descoberta é sempre essencialmente descerrada, e só assim pode ser o que é, o desvelamento do ente por si subsistente é algo que o ser-aí necessariamente sempre já passou adiante. A descoberta é compartilhada na abertura do ser-aí, mesmo quando não há nenhum participante faticamente presente.

Mediante a interpretação da verdade reunida nessas seis teses, já estamos em condições de determinar a essência da verdade de modo mais fundamental, mesmo que ainda não de maneira suficientemente completa e universal. Formulamos essas determinações em duas outras teses:

7. O ser-aí é essencialmente na verdade (cf. pp. 218 s.).

8. A verdade existe, isto é, seu modo de ser é a existência e esse é o modo no qual algo assim como o ser-aí é.


  1. De antemão, lembremos mais uma vez: verdade é desvelamento, manifestação do ente, qualquer que seja o seu modo de ser.