Excerto da entrada de Luiz Carlos Lima, no Dicionário de Comunicação
Ensaísta alemão (Berlim 1892-fronteira da Espanha com a França 1940). Foi em sua juventude amigo do hebraísta Gerhard Scholem, que o introduziu no estudo da mística hebraica, assim como do conhecido pensador Ernst Bloch. Estudou em Berlim, Freiburg e em Mônaco. Laureou-se em Berna (1918) com a dissertação Conceito de Crítica de Arte no Romantismo Alemão. Entre 1923 e 25 trabalha na tese Origens do Drama Alemão, publicada em 1928, com que espera receber a habilitação em filosofia pela Universidade de Frankfurt. A tese é entretanto rejeitada. Sob influência de Lukács, aproxima-se do comunismo. Liga-se a Adorno e Horkheimer, com eles, e ainda Marcuse, constitui os nomes mais famosos da chamada escola de Frankfurt. Do ponto-de-vista de estudo da situação contemporânea da arte, Benjamin é entretanto a figura mais importante do grupo. Com o advento do nazismo, escreveu durante algum tempo sob pseudônimo, até ser obrigado a emigrar. Reúne-se em Paris a Adorno e Horkheimer. Torna-se membro do Instituí für Sozialforschung (“Instituto de Pesquisas Sociais”) que os amigos emigrados haviam transferido de Frankfurt para aquela cidade. Colabora na revista do mesmo (Zeitschrift für Sozialforschung). É aí, em 1936, que publica seu ensaio fundamental sob o ângulo da comunicação: Das Kunstwerk im Zeitalter seiner technischen Reproduzierbarkeit (“A obra de arte na época de sua reprodutibilidade técnica”), assim como outro não menos relevante, sobre Baudelaire (1939). Trabalha então na obra em que deposita sua maior confiança, Paris. Capital do século XIX. Desta entretanto chegou a compor apenas algumas partes. O ensaio, constelação de fragmentos, a julgar pelo que dispomos, apresenta em articulação gráfica o clima sob que se formava a grande metrópole. Ante a invasão alemã da França, Benjamin procura, com um grupo de refugiados, atravessar os Pirineus. Capturados pela polícia espanhola, ameaçados de serem entregues a Gestapo, Benjamin prefere o suicídio. — Grande parte de seus ensaios foi publicada em 1959, sob a responsabilidade de Adorno , com o nome de Schriften (“Escritos”). Mais recentemente, 1969, foi editada uma antologia de artigos seus sobre a obra de seu amigo Brecht, Versuche über Brecht (“Ensaios sobre Brecht”). — Formulador da estética do fragmento, só na última década, graças às edições alemães e traduções italiana, francesa e norte-americana, Benjamin se torna um nome conhecido, No Brasil, a reflexão mais consequente encontra-se no livro de J.G. Merquior, Arte e sociedade em Marcuse, Adorno e Benjamin (1969). Sob o prisma da comunicação são fundamentais os ensaios “Pequena história da fotografia” (1931) e já citada “A obra de arte. . .” (1936). Neles, o autor desenvolve a tese que os procedimentos de reprodução técnica feriam mortalmente a ideia da unicidade da obra, a qual fazia com que esta se revestisse de um halo que a distinguia: a aura. A aura do objeto de arte dependia portanto de seu hic et nunc. A obra se individualizava do mesmo modo que os grandes personagens: seu valor estava na relação direta de sua raridade. A aura assim, ao mesmo tempo que assegurava uma função para o objeto de arte, o envolvia numa atmosfera aristocratizante-religiosa que obscurecia a sua qualificação mesma de arte. Desta maneira, ao desparecimento da aura, por efeito de sua multiplicação técnica, passam a corresponder efeitos tanto sociais quanto estéticos Sob o primeiro aspecto, a arte perde sua propensão aristocrática, do ponto-de-vista estético, a contemplação desinteressada é substituída pela experiência da arte como contato, participação e divertimento. A hipótese de Benjamin, que não deixa de se relacionar com as do jovem Brecht, contrasta com a interpretação de seus ex-companheiros Adorno e Marcuse. Os intérpretes mais agudos, porém, não se têm limitado a constatar esta flagrante contradição. É dentro do próprio Benjamin que descobrem uma colação ambígua sobre o problema. Tanto em ensaios anteriores, quanto no estudo sobre Baudelaire, Benjamin formula em traços menos otimistas a situação contemporânea da arte e do artista. A questão que se põe diz respeito aos efeitos resultantes da morte do “indivíduo” no século XX. Esta morte seria um sinal positivo quanto à libertação do homem ou não? O problema não podia fugir de uma empostação política. É nestes termos que Benjamin a coloca. A cultura de massa — entendida em seu sentido literal — seria um sintoma positivo. Ela abrigaria, conforme ele implicitamente a concebe, o experimentalismo de Brecht, de Eisenstein, de Maiakovski, o humor triste de Carlitos. Contra ela, a resposta do fascismo seria a “estetização da arte”. A ambiguidade de Benjamin, por outro lado, se explica pela falta de um maior inter-relacionamento entre as possibilidades oferecidas pelos processos de reprodução e a capacidade de absorção do sistema capitalista. Adorno simplificaria o problema ao absolutizar a potência neutralizadora do sistema. Na verdade, entretanto, nem esta se justifica como muito menos se justificou a arrebatada esperança de Benjamin. O que vale dizer: sua ambiguidade permanece até hoje não desmanchada, pois não resulta de uma deficiência do analista, mas sim de um impasse da história.