Na verdade, o automatismo é um grau de perfeição técnica bastante baixo. Automatizar urna máquina exige sacrificar muitas possibilidades de funcionamento, muitos usos possíveis. O automatismo, com seu uso na organização industrial, que é chamado de automação, apresenta uma significação econômica ou social, mais que uma significação técnica. O verdadeiro aperfeiçoamento das máquinas, aquele que eleva o grau de tecnicidade, não corresponde a um aumento do automatismo e sim, ao contrário, ao fato de que o funcionamento de uma máquina preserva certa margem de indeterminação. Essa margem permite que a máquina seja sensível a uma informação externa. Por essa sensibilidade das máquinas à informação, muito mais que por um aumento do automatismo, um conjunto técnico pode se completar. Uma máquina puramente automática, completamente fechada em si num funcionamento predeterminado, só pode oferecer resultados sumários. A máquina dotada de alta tecnicidade é uma máquina aberta, e o conjunto das máquinas abertas pressupõe o homem como organizador permanente, como intérprete vivo das máquinas, umas em relação às outras. Longe de ser o supervisor de uma turma de escravos, o homem é o organizador permanente de uma sociedade de objetos técnicos, que precisam dele como os músicos precisam do maestro. O maestro só pode reger os músicos porque toca a peça executada como eles, tão intensamente quanto todos eles; ele os modera ou os apressa, mas é igualmente moderado e apressado por eles; através dele, de fato, o grupo dos músicos modera e apressa cada um de seus membros; para cada um, o maestro é a forma em movimento e atual do grupo existente, é o intérprete mútuo de todos em relação a todos. Do mesmo modo, o homem tem por função ser o coordenador e o inventor permanente das máquinas que o cercam. Está entre as máquinas que funcionam com ele.