O que é este mundo? Uma coleção ou a totalidade dos entes, incluindo a pessoa, seria uma descrição ôntica. O mundo na expressão ser-no-mundo faz parte de um existencial do Dasein, se apresenta como um modo de ser do Dasein. Os entes intramundanos pressupõem o mundo. Não são eles que descrevem o mundo, mas o mundo que os explica. O mundo não é uma coleção de entes, ele é o mundo do Dasein: o ser do mundo é um momento constitutivo do ser do Dasein.

Nem um retrato ôntico dos entes intramundanos nem a interpretação ontológica do ser destes entes alcançariam, como tais, o fenômeno do “mundo”. Em ambas as vias de acesso para o ser “objetivo” já se “pressupõe”, e de muitas maneiras, o “mundo”.1

Como afirma Greisch2 porque não se falar então de pluralidade de “mundos” no qual se vive, como mundo acadêmico, religioso, comunitário, etc. Cada um destes mundos seria compreendido pela relação que se entretêm com ele. Justamente na abstração desta relação é que é possível investigar a “mundanidade” enquanto modo de ser do Dasein. A mundanidade se revela ontologicamente a partir da analítica existencial do Dasein3.

“Mundanidade” é um conceito ontológico e significa a estrutura de um momento constitutivo do ser-no-mundo. Este, nós o conhecemos como uma determinação existencial da pre-sença [Dasein]. Assim, a mundanidade já é em si mesma um existencial. Quando investigamos ontologicamente o “mundo”, não abandonamos, de forma alguma, o campo temático da analítica da pre-sença. Do ponto de vista ontológico, “mundo” não é determinação de um ente que a pre-sença em sua essência não é. “Mundo” é um caráter da própria pre-sença. Isto não exclui o fato de que o caminho de investigação do fenômeno “mundo” deva seguir os entes intramundanos e seu ser. A tarefa de “descrição” fenomenológica do mundo é tão pouco clara que já a sua determinação suficiente exige esclarecimentos ontológicos essenciais.4


  1. HEIDEGGER, Martin. Ser e Tempo I. Trad. Marcia Sá Cavalcante Schuback. Petrópolis: Vozes, 1998, pág. 104 

  2. GREISCH, Jean. Ontologie et temporalité. Esquisse d’une interprétation intégrale de Sein und Zeit. Paris: PUF, 1994 

  3. PASQUA, Hervé. Introduction à la lecture de Être et Temps de Martin Heidegger. Lausanne: L’Age d’Homme, 1993 

  4. HEIDEGGER, Martin. Ser e Tempo I. Trad. Marcia Sá Cavalcante Schuback. Petrópolis: Vozes, 1998, pág. 104 

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