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computador

O computador é um sintetizador de ilusões informacionais sobre o qual se manifestam as chamadas aplicações da informática, onde as estruturas de dados simbólicos pretensamente representativos de qualquer ato ou fato humano, estruturas estas operadas por algoritmos, formam uma “com-posição [Ge-stell] programática” (dados simbólicos + algoritmos) que pretende mimetizar modalidades ocupacionais do “ser-no-mundo”, ou apenas a partes ou um simples aspectos dele, após uma espécie de desconstrução e reconstrução, destas ocupações do ser-no-mundo, ou partes, ou aspectos dele, sob o modo digital de um modelo dito “informacional”. Em resumo, o computador é um engenho de representação.

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informatização

A informatização pretende assim ser a realização do real pelo virtual. O virtual realiza o real, no sentido de “tornar real” o real. Uma incongruência que, cada vez mais, faz sentido para um contingente crescente da humanidade conectada como periférico de tecnologias da informação, interligadas pela teia da Internet.

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informática

O “dar-se e propor-se da informática” culmina todo o avanço tecno-científico moderno, na expressão de um engenho de representação informacional/comunicacional, produto e produtor de um meio técnico-científico-informacional, dentro do qual a humanidade é cooptada, conduzida e regida pela exigência crescente dos ditames extra-técnicos da tecnologia neste dar-se e propor-se.

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técnica

Técnica e tecnologia são dois termos que estranhamente intercambiaram suas noções desde o século XVIII. A tecnologia, que originalmente se referia ao “discurso da técnica”, veio indicar o equipamento, máquina ou dispositivo propriamente dito, enquanto a técnica veio a se ocupar do discurso sobre ela mesma. Neste sentido se usa o termo ‘técnica’, afinado com a noção grega original de arte, de savoir-faire ou de “fazimento”. E, é justamente a técnica sob esta noção de “fazimento”, como denominou Darcy Ribeiro os fazeres indígenas, que nos interessa em nossa reflexão, em que prima a “questão da técnica” posta por Heidegger [GA7].

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dados

Uma representação de dados é a “tradução” de entes intramundanos em símbolos e algoritmos operadores destes símbolos, pretendendo resumir o objeto original a seu simulacro digital. Este simulacro é assim capaz de ser tratado por uma cadeia de processos de coleta, captura, organização, armazenamento, processamento, apresentação e distribuição através de tecnologias da informação e da comunicação.

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representação

Diferenciando-se do percepcionar grego, o representar moderno, cujo significado é expresso aproximadamente pela palavra repraesentatio, quer dizer algo muito diferente. Re-presentar significa aqui trazer para diante de si o que-está-perante enquanto algo contraposto, remetê-lo a si, ao que representa, e, nesta referência, empurrá-lo para si como o âmbito paradigmático. Onde tal acontece, é o homem que, sobre o ente, se põe como imagem. Mas na medida em que o homem, deste modo, se põe como imagem, ele põe-se a si mesmo em cena, isto é, no círculo aberto do que é universal e publicamente representado. Com isso, o homem põe-se a si mesmo como a cena, na qual o ente doravante se tem de re-presentar, presentificar [präsentieren], [114] isto é, ser imagem. O homem torna-se no que representifica [Repräsentant] o ente, no sentido do que é objetivo. [Heidegger, GA5]

  1. ontogênese comum do sig e deste “meio”. Nossa  colocação se assenta no entendimento de que o sig é, entre tantos outros, um objeto “técnico-científico-informacional”, por conseguinte, ideal e substancialmente vinculado ao referido “meio”.
  2. existe uma instituição e uma constituição mútuas do meio técnico-científico-informacional e do sig. Da totalidade representada pelo primeiro, e de um de seus objetos, representado pelo segundo.
  3. sig e “meio” se associam da mesma forma que, em um holograma, a parte é capaz de retratar o todo. Temos assim, de certa maneira, e ao mesmo tempo, o todo na parte, e a parte, como um todo, no todo.
  4. ambos são, de fato, consubstanciais, segundo as mesmas propriedades: técnica, científica e informacional. Emergem simultaneamente, no campo das ideias, na fundação da Razão Moderna, e ganham vigor e presença neste século, após a última grande guerra.
  5. como mutuários de uma mesma conjunção de valores, de ideais e de visão de mundo e de homem, sig e “meio” se instituem, compartilhando as mesmas condições de reprodução e de disseminação, especialmente de seus efeitos e de seus resultados, na interação com o humano. Por todas essas razões, se auto-engendram e se auto-organizam, provendo sempre novas facetas, novos arranjos, novas gerações, que re-alimentam sua instituição/constituição mútua.
  6. ao afirmar Milton Santos1 que o próprio espaço geográfico pode ser chamado de meio técnico-científico-informacional, penso que ele já imaginava que o sig, um instrumento que vem conquistando um lugar privilegiado no trabalho do geógrafo, deveria ser considerado um dos elementos instituidores deste mesmo “meio”. Em um trabalho elucidando melhor seus conceitos, Santos escreve:
    • A expressão meio técnico-científico pode, também, ser tomada em outra acepção talvez mais específica, se levarmos em conta que, nos dias atuais, a técnica e a ciência presentearam o homem com a capacidade de acompanhar o movimento da natureza, graças aos progressos da teledetecção e de outras técnicas de apreensão dos fenômenos que ocorrem na superfície da terra.2

Quanto ao estatuto sistêmico do SIG, devemos interpretá-lo, primeiramente, como um convite a compreensão do SIG como, de fato, um sistema, inter-relacionado entidades ao redor de uma tecnologia da informação. Ou seja, um sistema social de natureza específica, um sistema de informação, que se forma pela coalescência de quatro entidades, que se articulam, tendo como pivô o pacote sig, a tecnologia propriamente dita (vide MODELO DA ALAVANCA). As quatro entidades são: pessoa(s), problema/tarefa(s), organização e, enquadrando tudo, o ambiente, social, cultural, político, econômico, técnico, que contextualiza a gênese de um SIG.

Segundo o estatuto sistêmico, cada SIG é um SIG. A combinação das entidades, ao redor da tecnologia sig, institui/constitui um SIG, submisso a um ambiente determinado, dentro de uma organização específica, orientado para certos problemas/tarefas, e construído/operado por dadas pessoas, indivíduos únicos.

O que importa, como queríamos demonstrar é que a ontogenia de qualquer SIG, na coalescência das entidades mencionadas, se dá na total imersão e interação com um meio técnico-científico-informacional, como define Milton Santos, e, por conseguinte, instruída e dinamizada segundo esta simbiose ente3-“meio”, que só pode produzir e reproduzir objetos consubstanciais aos dois.


  1. SANTOS, Milton. A Natureza do Espaço. Técnica e Tempo. Razão e Emoção. São Paulo: Hucitec, 1995 ↩

  2. ibid, p. 192 ↩

  3. Este ente ou “sendo” como uma vertical, atravessando planos horizontais e paralelos, se manifesta em diferentes escalas, do individuo à organização, passando pelo nível grupal. ↩

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Essência da Informática, SIG ou sig