O computador é um sintetizador de ilusões informacionais sobre o qual se manifestam as chamadas aplicações da informática, tais como: o clássico processamento de dados, em seus mais distintos tipos estruturais, desde os numéricos, passando ainda por textos, planilhas de cálculo, correio eletrônico, telefonia inteligente, etc.
Com efeito, esta é a natureza do computador: um sintetizador, onde as estruturas de dados simbólicos representativos de qualquer ato ou fato humano, estruturas estas operadas por algoritmos, formam uma “com-posição [Ge-stell] programática” (dados simbólicos + algoritmos) que pretende representar o “ser-no-mundo”, ou apenas uma parte ou um simples aspecto dele, após uma espécie de desconstrução e reconstrução, deste mesmo ser-no-mundo, ou parte, ou aspecto dele, sob o modo digital de um modelo dito “informacional”. Modelo este, por sua vez, também pretensamente construído a partir de “um ponto de vista de lugar nenhum”, parafraseando o título do livro de Thomas Nagel.
De fato, qualquer “com-posição programática” não deveria nem sequer ser considerada uma representação do mundo, na medida que, em nossa situação de ser-no-mundo, temos acesso à visão do modelo informacional que a constitui em primeira instância, apenas como uma abstração conceitual, sem qualquer resíduo de sensibilidade existencial no tocante aos elementos representados.
Mas o computador é ainda mais um sintetizador de ilusões, pois a ilusão (do latim illudere, jogar com) se define justamente como um erro de um tipo particular, devido não a falta de atenção ou de método, mas devido às aparências que abusam de nós mesmos, nos fazendo ver a realidade diferentemente do que ela é. Em outras palavras, a tecnologia da informação, subsistente no computador, nos apresenta uma “realidade” constituída por dados simbólicos operados por programas de computador, com-posição esta incapaz de apreender a essência do real, devido a natureza de sua ontogenia, a partir de um modelo informacional do mundo.
Podemos assim afirmar que o computador é base da informática, enquanto engenho de representação do mundo. Engenho este emergente segundo a metafísica da Modernidade, fundamentada na “representação” conforme Heidegger, e operando em plena conformidade com o meio do qual é produto e produtor. Um meio técnico-científico-informacional, na notável visão do geógrafo Milton Santos.