ZIMMERMAN, Michael E.. Heidegger’s Confrontation with Modernity. Technology, Politics, Art. Bloomington: Indiana University Press, 1990

Resumo desta excelente análise da questão da técnica em Heidegger, contextualizada na sua constituição de questionamento relevante a nossa época.

  • Para Heidegger a técnica moderna tem três significados inter-relacionados:
    • primeiro, as técnicas, dispositivos, sistemas, e processos de produção usualmente associados com o industrialismo;
    • segundo, a visão de mundo racionalista, científica, mercantilista, utilitária, antropocêntrica, usualmente associada com a Modernidade;
    • terceiro, o modo de compreensão contemporâneo ou o modo de descobrir coisas que torna possível tanto os processos de produção industrial quanto a visão de mundo modernista. Heidegger sustenta que este último significado da “técnica moderna” é o mais importante de todos.
  • Tanto o industrialismo quanto a modernidade são sintomas do des-encobrimento de coisas como matéria-prima a ser usada na expansão do escopo do poder tecnológico para si próprio.
    • Este des-encobrimento unidimensional das coisas como matéria-prima, segundo Heidegger, não é o resultado de uma decisão humana, mas de desenvolvimentos dentro da “história do ser” ela mesma.
    • O estágio técnico nesta história assim transformou como as coisas são compreendidas, o que faz com que as pessoas sejam compelidas a tomar parte na ordem que se assenta e adotar a visão de mundo modernista a ela relacionada.
  • Como Kant, Heidegger acreditava que a tarefa do filósofo era desvendar as condições transcendentais que possibilitam o conhecimento e a ação humanos. Estas condições não são em si coisas, mas tornam possível nossa experiência objetiva de coisas.
    • Em sua análise da técnica moderna, Heidegger tentou descobrir as condições necessárias para a possibilidade de nossa experiência uni-dimensional de entidades como matéria-prima.
  • Como Hegel, Heidegger sustentou que as atividades humanas são em grande parte não auto-referenciadas e auto-originadas, mas ao contrário guiadas e configuradas por um “jogo” histórico de linguagem e conceitos que não está sob o controle humano.
    • Este jogo conceitual-linguístico determina as categorias que configuram as possibilidades da ação, do conhecimento e da crença humanas em determinada época histórica.
  • Enquanto Heidegger rejeita a visão de Hegel que a história é um movimento progressivo em direção da divina consciência de si, ambos tentaram desvendar a natureza dos “movimentos” conceituais e ontológicos que marcaram as diferentes épocas históricas dentro das quais a humanidade ocidental foi “projetada”.
  • Heidegger acreditava que estes movimentos marcados por épocas não eram em si visões de mundo (Weltanschauungen), mas sim as condições ontológicas necessárias para a emergência de uma visão de mundo particular.
    • Para Heidegger, então, a visão de mundo chamada “Modernidade” nunca foi um termo final na explicação da situação contemporânea, mas ao invés um sintoma de um movimento mais profundo que se oculta.
    • Sustenta que o movimento destas épocas históricas começou com a metafísica de Platão e culminou na era técnica.
      • Os principais períodos da história Ocidental – Grego, Romano, Medieval, Iluminista, Técnico – marcam, para Heidegger, os estágios de um longo declínio na compreensão da humanidade Ocidental daquilo que significa para alguma coisa, “ser”.
        • Na era técnica, em particular, para alguma coisa “ser” significa para ela ser matéria-prima para o auto-aperfeiçoamento do sistema técnico.
    • Interpretação da técnica moderna distinta da antropológica, que guarda uma perspectiva evolucionista da técnica.
      • Para Heidegger a técnica industrial não é fruto de evolução, mas de um modo de compreensão unidimensional do que “são” as coisas; cada época determina a manifestação das coisas; algo “ser” significa “ser des-encoberto” ou “ser manifesto”.
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Michael E. Zimmerman, Michael Zimmerman