Zimmerman (Confronto Modernidade) – Heidegger e Jünger

O mais importante desses modernistas reaccionários foi Ernst Jünger. A descoberta dos seus escritos foi o terceiro factor que moldou a mudança da minha abordagem histórica e contextual ao conceito de tecnologia moderna de Heidegger. Enguanto Herf aborda brevemente quanto Heidegger é tributário de Jünger e de outros modernistas reaccionários, eu analiso em pormenor essa tributação, enquanto ela se me afigura como crucial, tanto no concernente à compreensão da evolução da perspectiva de Heidegger sobre a época tecnológica, como por oferecer, também, alguma explicação para o seu apoio ao nacional-socialismo.

Os escritos de Jünger, sustento, formam o elo de ligação que medeia entre o pensamento de Heidegger, por um lado, e o seu envolvimento com o nacional-socialismo, por outro lado.

Em Der Arbeiter [DA] e outros trabalhos dos primórdios dos anos 1930, Jünger prevê que o Gestalt do trabalhador estava a «encarrilar» a humanidade no módulo do soldado trabalhador compelido a mobilizar a terra para a «fundição industrial» a nível planetário. Acreditando qpeja nacional-socialismo proporcionava a única alternativa disponível para tentar evitar-se a materialização das horrendas premonições de Junger sobre o futuro da Alemanha e do Ocidente, Heidegger optou por apoiar a «revolução dos trabalhadores» de Hitler. Heidegger sustentava que o nacional-socialismo devolveria a Alemanha às suas origens autênticas, tomando possível, através disso, um novo tipo de relacionamento entre o Volk alemão e o trabalho. Até ao fim da sua carreira, Heidegger não só continuou a acreditar que a visão de Jünger constituía a melhor descrição do estágio final tecnológico da história da metafísica pro-dutivista, como também sustentava uma promessa genuína de movimento para além do estágio tecnológico da história do Ocidente.

Nas minhas leituras sobre o envolvimento de Heidegger com o nacional-socialismo, os seus laços com os modernistas reaccionários, e especialmente a [33] sua tributação ao pensamento de Jünger, descobri que as dimensões históricas e políticas da perspectiva de Heidegger sobre a tecnologia moderna não poderiam ser ignoradas. Em consequência desta descoberta, mudaram-se tanto a ênfase como a estrutura do meu projecto original. Para se poder entender as teorias de Heidegger sobre a história e o carácter da metafísica produtivista, convenci-me que tinha de referir a narrativa concorrente do seu envolvimento pessoal e filosófico com as questões políticas dos seus próprios dias. Narrativa esta que se tomou a primeira parte deste meu estudo, ao passo que a descrição e a crítica ao seu conceito de tecnologia moderna, tal como é vista à luz da história da metafísica produtivista, passou a constituir a segunda parte.

Permita-se-me sublinhar, todavia, que o conteúdo destas duas partes são, de facto, interligadas. Heidegger tentou aplicar o seu pensamento à situação desesperada da Alemanha, porque ele acreditava que unicamente a sua interpretação sobre a «dimensão trabalho» da metafísica ocidental poderia proporcionar a directriz necessária ao estabelecimento de um mundo novo de trabalho e de produção para a Alemanha. Para ele, muito simplesmente, a miséria vivida pelo povo alemão nos anos 1920 e 1930 tinha emergido por a história do ser ter conduzido à degradação do trabalho. A tarefa consistia em procurar-se um modo novo de trabalhar e produzir, susceptível de enfatizar a relação entre a produção e a arte, principalmente a poesia. Para modelo de produção autêntica, ou seja, para «permitir que as coisas o sejam», Heidegger tomou o elemento revelador patente num trabalho de arte. Uma das razões porque Heidegger se deixou atrair pelo nacional-socialismo foi a de que, também ele, se propunha ultrapassar a alienação do trabalhador moderno, através da transformação do trabalho em forma de arte.