António Fidalgo: O modo de informação de Mark Poster

Origem e demarcação do conceito

Modo de informação é o conceito cunhado por Mark Poster, nomeadamente nos livros Critical Theory and Poststructuralism de 1989 e The Second Media Age de 1995 (A Segunda Era dos Média, Celta Editora, 2000) para designar “o modo como a comunicação electronicamente mediada desafia e, ao mesmo tempo, reforça os sistemas de dominação emergentes na sociedade e cultura pós-moderna.” O conceito desenvolve-o Poster a partir da teoria marxista do modo de produção (e daí nome de modo de informação!). Entre os dois modos há afinidades e diferenças. As primeiras são três, a saber, que todas as relações sociais são transitórias, constituídas historicamente, que o teórico faz parte da realidade que analisa e, portanto, não dispõe de uma supra-posição epistemológica que lhe possibilite uma análise universal e intemporal da linguagem, e que, finalmente, o objectivo da teoria é tanto revelar as estruturas de dominação como a de descortinar o potencial libertador de todo e qualquer padrão de experiência linguística.

O que diferencia o modo de informação do modo de produção é desde logo a recusa da prioridade que Marx concede ao trabalho. Embora Poster reconheça que o trabalho continua a desempenhar um papel fundamental nas sociedades contemporâneas, considera que se trata de um conceito desadequado para servir de charneira numa análise das actuais situações de dominação. A segunda diferença está na eliminação do aspecto teleológico do materialismo histórico. A preservação da teleologia no modo de informação tornaria o elemento linguístico no ‘centro’ ou na ‘essência’ do campo social a que acabariam por se reduzir todos os outros aspectos deste campo. Aliás, e esta é outra diferença, a teoria do modo de informação mina de certo modo a teoria do modo de produção, na medida em que enquanto esta se centra no modo como os objectos que satisfazem as necessidades humanas são produzidos e trocados, aquela incide sobre o modo como os símbolos são usados para partilhar sentidos e constituir objectos. Em quarto lugar, e finalmente, as sociedades contemporâneas, tecnologicamente sofisticadas, caracterizam-se por distintos novos modos de informação que alteram radicalmente o quadro das interrelações sociais. É neste sentido que também é legítimo falar das sociedades da revolução industrial como modos de produção.

Mas Poster além de caracterizar o modo de informação, demarcando-o do modo de produção, fá-lo também relativamente ao modo de significação de Baudrillard, tal como aparece na obra deste Para uma Economia Política do Signo. Poster considera que Baudrillard ao limitar-se às categorias saussureanas reduz a comunicação a um código abrangente e totalizante, limitado ao campo semiológico, mas incapaz de analisar os fenómenos linguísticos além dos que estão associados ao marketing e ao comércio de produtos, como sejam as técnicas de vigilância e as possibilidades comunicacionais das novas tecnologias.

Feita a definição do conceito de Poster, mediante o confronto com os conceitos de modo de produção e de modo de significação, há a salientar antes do mais o carácter marxista do novo conceito, nomeadamente no seu propósito de analisar as relações sociais de dominação e de simultaneamente, mediante essa análise, procurar potenciais elementos de libertação social. Declaradamente o modo de informação visa dar um novo alento aos propósitos finais da teoria do modo de produção. Com efeito, Poster assume declaradamente a teoria crítica como ponto de partida para analisar a hegemonia ideológica da sociedade capitalista avançada, a cultura de massas e a diluição da classe operária como factor de libertação social. A especificidade do modo de informação está no contributo que Poster vai buscar ao pós-estruturalismo, em particular na inter-relação entre discurso e poder explorada por Michel Foucault. As relações sociais de poder são indissociáveis dos tipos de discurso que as instituem e as justificam. É com base na intelecção do papel da linguagem nas relações sociais que Poster aborda a forma como a própria linguagem vem sendo alterada pelos sistemas electrónicos de comunicação.

António Fidalgo, “O modo de informação de Mark Poster”. Comunicação e Poder