Nesta direção parece se situar o trabalho do geógrafo Roger Brunet (1980, 1990), e do grupo GIP-Reclus, ao propor toda uma nova linguagem para mapear a organização espacial da Sociedade. Segundo Brunet, o que denominou de “chorèmes” seriam o novo “alfabeto do espaço”, único capaz de fazer face a atual organização do espaço, enquanto obra humana. O espaço a que Brunet se refere seria uma dimensão intrínseca da Sociedade, que se revela não apenas através das formas visíveis e materiais da ação antrópica sobre a Natureza, mas também se organiza por campos de força, fluxos que só a análise geográfica pode desvendar.Além dos trabalhos de Brunet e seu grupo de seguidores, constantes da bibliografia, recomenda-se duas críticas notáveis em Scheibling, 1994 e em Herodote, 1995.
Brunet defende uma concepção de espaço geográfico, distinta de espaço natural desde sua origem, pela própria relação principiadora Homo-Natura. Partindo de uma espaço geográfico de natureza social, cujas formas e estruturas provêm do “fazimento” humano, Brunet identifica processos de construção deste espaço: a apropriação, a exploração, a comunicação, a habitação e a gestão. “Atores do espaço”, mobilizados por estes processos, produzem e consomem o espaço geográfico, por sua atuação consciente ou não.
Para Brunet compete ao geógrafo estudar os espaços concretos e o espaço geográfico, este último uma abstração, conforme conceituado, onde se podem analisar, identificar e verificar as leis do espaço. Não se trata, segundo Brunet, de um espaço matemático, nem geométrico, nem físico, mas de um espaço das “formas” e das “estruturas” que ordenam o espaço da Sociedade. Os “chorèmes” (termo inventado por Brunet a partir do radical grego khorê, de corografia), seriam as unidades elementares que permitiriam representar qualquer espaço, em qualquer escala, garantindo a necessária articulação entre o espaço geográfico conceitual e o espaço concreto, solucionando a velha querela entre o nomotético e o idiográfico na Geografia.
As posições de Roger Brunet, embora revelem um trabalho e uma longa reflexão, ensaiada desde o inicio dos anos 70, e possam significar uma tentativa válida de avanço no pensamento geográfico, sempre sob o desafio das questões que se colocam sobre a relação Sociedade e Natureza, estão sendo combatidas por geógrafos de peso como Yves Lacoste, que até fez questão de dedicar um recente número da revista Herodote à crítica da proposta de Brunet, e do próprio Sistema de Informação Geográfico.
Preocupado com a proliferação “perniciosa”, inclusive no ensino, de representações “coremáticas”, Lacoste toma posição de denúncia contra a “banalização” da Geografia através da avalanche de esquemas metafóricos, com base nos ditos “chorèmes”. Confundindo esquematização com modelação, démarches que traduzem atitudes intelectuais muito diversas, os seguidores de Brunet tentam impor um modelo único, incapaz de apreender a diversidade de fenômenos espaciais tratados pela Geografia, e que sobressaem de categorias científicas bastante heterogêneas, segundo Lacoste.