Cada vez que digo que se poderia substituir tal ou tal representação por tal outra, avançamos um passo para a meta que é de apreender a essência daquilo que é representado. Wittgenstein, Remarques philosophiques.

Falar de essência, informática e analogia, requer algumas notas prévias, para assegurar a justa compreensão do que se está tratando. A “essência de alguma coisa é aquilo que ela é”, sua vigência (do verbo wesen), enquanto aquilo que vige, seu vigor, sua permanência, como afirmou Heidegger, na excelente tradução de Carneiro Leão1.

“Para chegarmos à essência ou ao menos à sua vizinhança, temos de procurar o verdadeiro através e por dentro do correto” (Ibid.), e neste sentido a analogia pode ser o caminho para o conhecimento da natureza, da essência daquilo que se investiga. A analogia é um termo originário do grego (ana + logía), por sua vez derivado de lego (reunir, colher, escolher), que designa a proporção, ou seja a relação proporcional entre os elementos que entram na composição do corpo do mundo (Platão, Timeu), ou entre os quatro graus de conhecimento (Platão, República), ou entre o sensível e o inteligível. Aristóteles fez da analogia um método de pesquisa do fundamento ou da essência, por suas possibilidades de busca de homologia entre termos e disposição, de dois objetos de estudo.

Quanto ao termo “informática”, este guarda atualmente inúmeras acepções:

  • técnica ou tecnologia da informação e da comunicação, operada por uma pessoa com certo propósito, na resolução de problema, em um contexto de investigação, organização ou não, em meio acadêmico, empresarial ou doméstico;
  • setor da indústria que reúne projetistas, fabricantes e distribuidores de equipamentos, software e serviços que compõem as tecnologias da informação e da comunicação;
  • área organizacional de uma empresa onde uma equipe de especialistas se dedica à sustentação operacional das tecnologias deste gênero;
  • conjunto de equipamentos e software de uma empresa; e ainda outros.

 

Neste trabalho, a primeira acepção será utilizada. No caso da informática, enquanto técnica da informação e da comunicação ou, como diria Heidegger, enquanto “ente que vem ao encontro” neste tipo de ocupação (Besorgen) informacional-comunicacional, deve-se entendê-la doravante como “instrumento informacional-comunicacional”. Por sua vez, considerando que um instrumento nunca “é”, só o sendo num todo instrumental que pertence a seu ser, e que o faz viger como “algo para…”, seus diferentes modos de “ser para” (Um-zu), como serventia, contribuição, aplicabilidade, manuseio, ganham sentido na totalidade instrumental onde o instrumento se destaca. Sua “manualidade” (Zuhandenheit), ou seja, o modo de ser do instrumento em que ele se revela por si mesmo, se evidencia pelo lidar com o instrumento no uso, onde a ocupação se subordina ao “ser para” constitutivo do respectivo instrumento, neste caso informacional-comunicacional.

Dada a necessidade de se estudar a essência de um instrumento, enquanto “ser para”, em uma situação de serventia, em sua apropriação, em uma aplicação, o objetivo desta reflexão, como indicado pelo próprio título será desvelar o que é a informática, seu vigor enquanto técnica ou tecnologia da informação «à mão» de uma pessoa, através da investigação de sua possível analogia, com o uso de uma das técnicas mais antigas adotadas pelo homem, a alavanca. Espera-se, por esta investigação da analogia de uma situação de aplicação da alavanca com o “dar-se e propor-se da informática”, numa condição de uso da tecnologia como instrumento informacional-comunicacional, que seja possível pela homologia dos elementos constituintes dos dois estados de serventia, da alavanca e da informática, compreender pela essência da técnica mais elementar, que se revela na aplicação da alavanca, ou seja, se compreender algo da essência da informática.


  1. HEIDEGGER, Martin. Ensaios e Conferências. Trad. Emmanuel Carneiro Leão, Gilvan Fogel e Marcia Sá Cavalcante Schuback. Petrópolis: Vozes, 1954/2002. 

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