Concluindo, a afinidade com o método geográfico, visto sob o ângulo de sua intensa associação com o mapa, pode ser uma das razões que explique o qualificador “geográfico” em SIG, dado especialmente o caráter propositalmente mimético adotado pela insinuante informatização, em seus estágios de conquista. Entretanto, ficam em aberto muitas questões para serem melhor aprofundadas, tais como:

  • a partir de um certo limiar de apreensão cognitiva do espaço, para compreender o espaço geográfico, o observador necessita assumir uma posição privilegiada que lhe confira uma visão ortogonal deste espaço, enquanto um mosaico de áreas diferenciadas; desde a antiguidade, que o “analógico” do mapa tradicional bidimensional vem tentando estabelecer a proporção justa de traços, cores, símbolos e textos, para a representação do multidimensional em uma Flatland, de onde se deve empreender um processo de reconstrução, onde memória e imaginação assumem um papel ativo; com a carta digital, ainda comumente estabelecida pela desconstrução/reconstrução do mapa tradicional, mas oferecendo a partir de então inúmeras possibilidades de “manipulação”, estaria se constituindo um novo arranjo epistemológico pessoa-mapa, de forte mediação tecnológica? em que termos? com ou sem uma maior liberação da Flatland imposta pelo mapa tradicional?
  • a modelagem e a simulação ofertadas a partir da carta digital parecem descortinar um imenso horizonte, no qual o “virtual” assume o papel, muitas vezes, do “real”, estimulando algumas facetas dos “sentidos” e de aspectos psicofísicos do ser humano, a nível do intelecto, do emocional e do institivo-motor; certamente não se está articulando o mesmo “aparato” humano que é posto em operação diante do mapa tradicional, muito menos diante da paisagem “real”; que metamorfoses esta nova dinâmica cognitiva deve desencadear, até mesmo a nível epistemológico?, que transformações estão sendo promovidas pela “análise espacial” com base em um SIG?
  • a aparência sedutora que o “Sistema de Informação” qualificado de “geográfico”, disfarçado sob o mesmo tipo de invólucro lúdico de um “jogo” em computador, é um convite à um outro tipo de “virtual”: o “geógrafo virtual”; dominando a tecnologia em seus mínimos detalhes, conhecedor dos dados georeferenciados disponíveis, esperto quanto as corretas práticas cartográficas, mas sem qualquer formação geográfica, indivíduos de distintas bases educacionais se arvoram a praticar “análises espaciais”, de forte pretensão geográfica; estaria se instituindo, como naqueles “jogos de aventura” em que cada jogador se identifica integralmente com um personagem, uma “realidade virtual” muito mais ampla, em que se reproduz não apenas o espaço mas seu observador, e mais ainda, sua inteligência?

Natureza do SIG