O ambiente social, político, cultural e econômico, representado pelo moldura do enquadramento do modelo figurativo do SIG, “emoldura” o quadro do modelo com as demais entidades que o compõem, lhes conferindo um recorte específico na paisagem, um destaque especial para sua dinâmica, e toda uma “razão de ser” para o que representa, ao mesmo tempo que se deixa ocultar sob o realce natural dado a figura em si.
Esta moldura mais externa do quadro do modelo figurativo do SIG, moldada nos últimos quatro séculos pela exaltação da Razão Moderna, estabeleceu a direção e as condições necessárias para constituição de uma cercadura específica, um enquadramento (a Gestell de Heidegger?) sobre o “fazimento” humano, retratado no modelo, tendo como vértices: a Ciência, a Técnica, a Epistemologia e a Prática, modernas. Estes polos sobre a dita cercadura se projetam ou se refletem não só sobre a figura enfocada (pessoa-alavanca-pedra-solo), mas também sobre sua própria forma e ordenação; estas últimas, por sua vez, se apresentam como a própria expressão destes polos ou vértices, verdadeiras forças modeladoras, no sentido de D’Arcy Thompson1.
A constituição social, política, cultural e econômica de um Sistema de Informação como o SIG, tem sido objeto de inúmeras análises. Algumas, mesmo partindo de uma visão cândida de “geração espontânea” do objeto técnico, no mínimo reconhecem e valorizam seus impactos sobre a relação Sociedade e Natureza, e sobre cada uma diretamente2. As condições impostas pelo quadro sobre as entidades do modelo figurativo, determinam e configuram seu ente, sua entidade, desde sua concepção até sua operação.
Considerado o modelo figurativo como uma justa representação do SIG, poderia se aventar a possibilidade de que sua imagem do “fazimento” humano, embora primitiva e ingênua, não deixe de ser capaz de retratar, através de traços impressos em sua morfologia, a atuação de um “campo de forças” engendrado e mantido pela Razão Moderna. Algo bem próximo da Gestell, a com-posição, identificada por Heidegger como a “essência da técnica”3.
THOMPSON, D’Arcy Wentworth. On Growth and Form. Cambridge: Cambridge University Press, 1966 ↩
SHEPPARD, E. (ed.). “GIS and Society”, special issue of Cartography and Geographic Information Systems 22 (1), 1995; PICKLES, J.. Ground Truth. The Social Implications of Geographic Information Systems. New York: The Guilford Press, 1995. ↩
HEIDEGGER, Martin. Ensaios e Conferências. Trad. Emmanuel Carneiro Leão, Gilvan Fogel e Marcia Sá Cavalcante Schuback. Petrópolis: Vozes, 1954/2002. ↩