- informatização tanto da Sociedade quanto da Natureza. Ou mais corretamente, a informatização de todas as atividades humanas na Sociedade e dos meios de conhecimento da Natureza.
- novo Meio, onde reinarão de forma absoluta objetos sócio-técnicos e fantasmas informacionais, de todos os gêneros e de todas as espécies. Na feliz expressão de Milton Santos1, por sua configuração, este novo Meio deveria ser denominado meio técnico-científico-informacional.
- objetos sócio-técnicos, que talvez pudéssemos até qualificar de “híbridos”, na acepção de Bruno Latour2, ou seja, artefatos constituídos pela íntima relação entre os dois eixos epistemológicos que orientaram a Razão na Modernidade, Sociedade e Natureza.
- em meio e no meio desses objetos híbridos, uma multidão crescente de fantasmas informacionais, em fluxo contínuo, reproduzidos a partir de suas formas originalmente sociais ou naturais, segundo os padrões ditados pelos sistemas informáticos que aos poucos foram sendo formalizados segundo sistemas classificatórios distintos, e ora se materializam sobre uma diversidade de tecnologias da informação. Fantasmas informacionais que se comportam como as sombras digitais das entidades que ocupam o plano formado pelos referidos eixos.
- sob essas manifestações mais visíveis da informática, e sob suas atualizações múltiplas que vão desde os jogos aos chamados “sistemas especialistas”, se ocultam algumas das principais ideias-mentoras da Razão Moderna[1], em contínuo movimento de associação e de desdobramento, tendo como resultado imediato, a composição de sucessivos híbridos digitais e de seu meio artificial.
- a informatização se configura assim como um dos principais processos que são sustentados e que, ao mesmo tempo, sustentam o que Milton Santos3 denomina muito bem meio técnico-científico-informacional. A dialética homem-meio encontra-se assim condicionada e mediada pela tecnologia da informação, informando, constituindo, e sendo informada e constituída por, um meio técnico-científico-informacional.
- a dialética homem-meio, tendo como “traço de união” a tecnologia da informação, determina um processo muito peculiar de auto-organização, que se singulariza na chamada Era da Informação, por sua capacidade de reconfigurar em híbridos digitais, qualquer objeto social ou natural, para o qual dirija sua atenção.
- pela ação do processo de informatização, qualquer objeto é, de forma sistemática, pulverizado em uma base de “dados simbólicos”, doravante reconhecida como seu “ente informacional”, ao mesmo tempo em que sua “existência” é dissecada, em diferentes sequências de operações sobre seu ser informacional. Operações estas também passíveis de codificação, segundo uma forma lógico-matemática.
- a informática permite re-potencializar a realidade, elevando-a a sua virtualidade, ou a uma modalidade tal, a partir da qual ela é capaz de ser então atualizada, segundo novas problemáticas, alinhadas, por sua vez, segundo os interesses os mais diversos. Este poder de re-potencialização da informática reside justamente em sua capacidade de múltiplas reproduções digitais de fantasmas informacionais da realidade, sobre a base tecno-científica de um objeto híbrido, o computador.
- necessidade de uma tentativa de desconstruir o SIG, nos termos indicados, procurando desvendar sua essência em sua aparência tecnológica, o sig. Ao longo desta trajetória crítica, espera-se reconhecer as ideias-forças, ou Ideias Mentoras, que respondem pela ontogenia do sig.
O desafio permanente é o de desconstrução do SIG, sem perder de vista o sig e o meio técnico-científico-informacional, que, ambos, o instituem e constituem, e que por ele, sig, seu catalizador, é re-instituído e re-constituído. |
[1] Qualifico de Moderna à Razão, que se institui na Modernidade, da mesma forma que se usa qualificar o Homem de Antigo, de Medieval, ou de Moderno, como se não se tratasse de um mesmo “ser humano”, em cada uma destas épocas. Com efeito, é possível distinguir uma racionalidade, entendida como uma operação da Razão, distinta na época moderna, como pretendia demonstrar Weber45. Uma Razão talvez dirigida por uma metafísica própria da época, a exemplo do que Heidegger6 nos convida a pensar a “representação”.
SANTOS, Milton. A Natureza do Espaço. Técnica e Tempo. Razão e Emoção. São Paulo: Hucitec, 1995. ↩
LATOUR, Bruno. Jamais Fomos Modernos. Rio de Janeiro: Editora 34, 1994. ↩
SANTOS, Milton. A Natureza do Espaço. Técnica e Tempo. Razão e Emoção. São Paulo: Hucitec, 1995. ↩
WEBER, Max. Le savant et le politique. Paris: Plon, 1917/1959. ↩
WEBER, Max. L’Ethique protestante et l’esprit du capitalisme. Paris: Plon, 1964. ↩
HEIDEGGER, Martin. Chemins qui ne mènent nulle part. Trad. Wolfgang Brokmeier. Paris: Gallimard, 1949/1962 ↩