Jacques Ellul – Unicidade do fenômeno técnico

O fenômeno técnico, englobando as diferentes técnicas, forma um todo. Essa unicidade da técnica já se torna visível quando verificamos, com evidência, que o fenômeno técnico apresenta sempre e essencialmente os mesmos caracteres. É inútil procurar diferenciações que existem, aliás, mas são de ordem secundária: na realidade estamos em presença de traços comuns, tão nítidos, que é muito fácil discernir o que é fenômeno técnico e o que não é. As dificuldades encontradas no estudo da técnica provêm do método a empregar e do vocabulário, mas não do fenômeno em si mesmo, que é eminentemente simples de verificar.

A análise dos traços comuns é delicada, mas a percepção de sua evidência é fácil. Ora, sem nenhuma possível dúvida, assim como há princípios comuns entre uma estação de rádio e um motor de explosão, assim também os caracteres são idênticos entre a organização de um escritório e a construção de um avião. Essa identidade em que seria útil insistir, é realmente o primeiro índice dessa unidade profunda que constitui o fenômeno técnico, essencial, sob a extrema diversidade de suas aparências.

Como corolário, é impossível separar este ou aquele elemento: verdade essencial, particularmente ignorada hoje em dia. A principal tendência de todos aqueles que pensam nas técnicas é distinguir: distinguir entre os diversos elementos da técnica, dos quais uns poderiam ser mantidos, os outros afastados; distinguir entre a técnica e o uso que dela se faz. Essas distinções são rigorosamente falsas e provam que nada se compreendeu do fenômeno técnico, cujas partes são antologicamente ligadas e cujo uso é inseparável do ser.