Gilvan Fogel, «CONHECER É CRIAR»
Inicialmente, a palavra disciplina evoca ordem – um ordenamento ou uma ordenação que pode ser imposta ou que, “livremente”, pode ser admitida, consentida, cumprida e seguida à risca para colocar em funcionamento algum procedimento, alguma organização. Está ligada, assim, à determinação e ao seguimento de regras que, claro, visam ordenar ou regular alguma atividade, algum campo de ação. Fala-se, por exemplo, de “disciplina militar”, de “disciplina religiosa”, de “disciplina (isto é, conduta afinada por certos preceitos) escolar ou acadêmica”. Nesse sentido, ainda, disciplina está ligada ou referida à observância de preceitos, normas, regras, princípios – uma conduta, um comportamento correto, adequado. Deve ser nesse contexto que surge “disciplina” no sentido de “matéria de ensino”, de “conteúdo de estudo”, ou seja, no sentido do estabelecimento de um corte ou de uma delimitação, de modo a demarcar um “ramo” do saber, a definir um domínio do conhecimento e que vem a ser um certo conjunto de conhecimentos ou uma “cadeira” (“cátedra”) de um estabelecimento de ensino, de um certo curso – por exemplo, o de filosofia. Definir tal ramo, tal âmbito ou tal domínio do saber supõe uma divisão, uma classificação respectivamente uma compreensão e interpretação e, daí, uma hierarquização de um saber – por exemplo, a filosofia. Há nisso, talvez, uma certa intenção estratégica, um certo “instinto” napoleônico: dividir para dominar. Faz parte do planejamento escolar ou acadêmico e aí tem seu mérito e sua utilidade.