Heidegger – Cibernética

HEIDEGGER, Martin. Língua de Tradição e Língua Técnica. Tradução do francês, Mário Botas. Lisboa: Vega, 1995

Se, avançando no sentido da dominação da técnica que determina tudo, temos a informação pela forma mais alta da língua por causa da sua univocidade, da sua segurança e da sua rapidez na comunicação de informação e de directivas, então o resultado é a concepção correspondente do ser-homem e de vida humana. Assim lemos em Norbert Wiener, um dos fundadores da cibernética, disciplina avançada da técnica moderna: «Ver o mundo inteiro e dar ordens ao mundo inteiro é quase a mesma coisa que estar em todo o lado» (Homem e máquina humana [[Norbert Wiener, Sprache und Dichtung, Francfort: Kösel-Verlag 1952.[/wiki], 95). E noutro lugar: «Viver activamente significa viver com a informação apropriada» (op. cit., p. 114).

No horizonte de representação da língua, seguindo a teoria da informação, interpreta-se igualmente de maneira técnica uma atividade como a de aprender. Assim escreve Norbert Wiener: «Aprender é fundamentalmente uma forma de retroação pela qual o modelo de comportamento é modificado pela experiência que precede» (op. cit., p. 63). «A retroação… é um carácter absolutamente universal das formas de comportamento» (ibid.). «A retroação é a condução de um sistema pela reintrodução no próprio sistema dos resultados do trabalho cumprido» (op. cit., p. 65).

Uma máquina executa o processo técnico de retroação, definido como circuito de regulação, assim como — senão de maneira tecnicamente mais refletida — o sistema de mensagens da língua humana. É por isso que a última etapa, se não for a primeira, de todas as teorias técnicas, é explicar «que a língua não é uma capacidade reservada ao homem, mas uma capacidade que partilha até um certo grau com as máquinas que desenvolveu» (Wiener, op. cit., p. 78). Uma tal proposição é possível se se admite que o próprio da língua está reduzido, isto é, limitado à produção de sinais, ao envio de mensagens.