Dreyfus (Being-in-the-world) – disposição de espírito, estado de ânimo (Befindlichkeit)

O termo de Heidegger para o aspecto receptivo do modo de ser do Dasein, onde ele justamente descobre coisas e maneiras de agir importando a ele, é Befindlichkeit. Esta não é uma palavra em alemão comum, mas é construída de uma saudação diária, «Wie befinden Sie sich?», que literalmente pergunta «como te encontras?» — algo como nossa saudação «como vai?». Para traduzir este termo certamente não podemos certamente usar o termo dos tradutores em inglês, «state-of-mind», que sugere, pelo menos aos filósofos, um estado mental, uma condição determinada de um sujeito isolável. Heidegger se empenha em mostrar que o senso que temos de como as coisas estão é precisamente não um estado mental privado. E justamente como estado-da-mente pode ser ouvido como muito interior, outro termo tentei, «disposição», porque de seu uso pelos behavioristas como disposição para se comportar, pode ser ouvido como muito exterior. Tentei também «situacionalidade», mas, como vimos, situação é outro nome para a clareira.

No desespero, voltei-me para uma expressão tão estranha como Befindlichkeit de Heidegger, a saber «onde-estás», mas isto deixa de fora a sensitividade à situação. O que se precisa é uma palavra em inglês que transpareça «encontrar-se em uma situação onde as coisas e as opções já importam». Posto que nenhuma palavra que conheço transparece tudo isto, fico finalmente com «afecção», que pelo menos captura nosso ser já afetado pelas coisas, como no seguinte trecho:

Ser afetado pelo caráter sem serventia, resistente ou ameaçador daquilo que está disponível, se torna ontologicamente possível somente na medida que ser-em como tal foi determinado existencialmente de antemão de tal maneira que o que encontra dentro-do-mundo pode «importar» para ele deste modo. O fato que este tipo de coisa pode «importar» para ele está fundamentado em sua afecção; e como afecção ele já tinha descoberto o mundo — como algo pelo qual ele pode ser ameaçado, por exemplo […] A abertura do Dasein ao mundo é constituída existencialmente pelo afinamento da afecção. (Ser e Tempo, pg. 137)

DREYFUS, H. L. being-in-the-world: A Commentary on Heidegger’s Being and Time, Division I. Massachussets: The MIT Press, 1990.