Excertos de W. Luijpen, “Introdução à fenomenologia existencial”

Que é “propriamente” saber o que é conhecimento, sem que eu possa dizê-lo ? Este saber é estar na presença do homem cognoscente que sou. Conheço árvores, casas, pessoas, mas é como se nisso “deixasse” em primeira instância meu próprio conhecimento. Quando um psicólogo procura conhecer o semelhante que se volta a ele, o homem é o tema de seu conhecimento. Diz, p. ex., que se trata de um introvertido, emocional e inteligente, ou que sofre de uma incipiente esquizofrenia. Assim exprime o termo de encontro de seu conhecimento, mas “passa por cima” de seu próprio conhecimento e de todos os passos dados para chegar a seus juízos, não exprimindo nada disso. Contudo, o psicólogo “sabe” o que é conhecimento psicológico e como se forma seu juízo, pois que é capaz de efetuar tal conhecimento e tais juízos. Está presente ao conhecedor que ele mesmo é, e por isso também se torna possível teorizar os próprios conhecimentos e juízos.

O mesmo se pode dizer de inúmeras outras situações. Quando conto os cigarros em meu maço, exprimo o termo de encontro de meu contar, ao dizer: “são doze”. “Deixei de lado”, entretanto, meu contar; não o exprimi de maneira alguma; não foi o tema de minha ocupação. Apesar disso, sei o que é contar, visto que estou presente a meu próprio contar.

Se alguém então me perguntar o que estou fazendo, responderei imediatamente: “estou contando”. Nesse momento, porém, o tema de meu conhecimento não são mais os cigarros, mas é o próprio contar. Estou presente a meu próprio contar, mas assim que alguém me pergunta o que estou fazendo, coloco-me explicitamente na presença desse contar e exprimo-o.

Bibliografia

STEIN, E. Exercícios de Fenomenologia: limites de um paradigma. Ijuí: UNIJUÍ, 2004.
STEIN, E. Seis estudos sobre “Ser e tempo”. 4. ed ed. Petropolis, RJ: Vozes, 2008.
ROSSET, C. O Princípio de Crueldade. Tradução: José Thomaz Brum. Rio de Janeiro: Rocco, 1989.
DELEUZE, G.; GUATTARI, F. O que é a filosofia? São Paulo: Editora 34, 2010.
ABELLIO, R. La fin de l’ésotérisme: essai. Paris: Flammarion, 1973.
STOKES, P. The naked self: Kierkegaard and personal identity. First edition ed. Oxford, United Kingdom: Oxford University Press, 2015.
[s.l: s.n.].
ECKHART, M. Sermões alemães: Sermões 61 a 105. Tradução: E.P. Giachini. Petrópolis: Vozes, 2008.
ECKHART, M. The Complete Mystical Works of Meister Eckhart. Tradução: M.O.C. Walshe. London: Crossroad Publishing Company, 2009.
ECKHART, J. Meister Eckhart: Vol 1. Tradução: C.D.B. Evans. London: John M. Watkins, 1924.
ECKHART, M. OEuvres de Maître Eckhart: sermons, traités. Tradução: Paul Petit. Paris: Gallimard, 1987.
ECKHART, J. Le Silence et le Verbe. Sermons 87-105. Paris: Editions du Seuil, 2012.
GOBRY, I. Vocabulário grego da filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 2007.
LEIBOVICI, M. Genies, anges et demons. Paris: Editions du Seuil, 1971.
EMMANUEL, R. Pleins feux sur la Grèce antique: la mythologie vue par ses écoles des mystères. Paris: R. André, 1963.
HULIN, M. Le principe de l’ego dans la pensée indienne classique: la notion d’ahamkara. Paris: Vrin., 1978.
DEUTSCH, E. Qu’est-ce que l’Advaita vedānta ? Tradução: S. Girard. Paris: Les Deux Océans, 1980.
BRUN, J. Platão. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 1985.
LOPES, R. P. N. O Timeu de Platão: mito e texto – estudo teórico sobre o papel do mito-narrativa fundacional e tradução anotada do texto. Universidade de Coimbra, , 2009.
PLATON; MONIQUE CANTO-SPERBER. Ménon. Paris: Flammarion, 1991.
TRABATTONI, F. Platão. [s.l.] Annablume, 2010.
SZLEZÁK, T. A. Platão e a Escritura da Filosofia. São Paulo: Loyola, 2009.
SALLIS, J. C. Being and logos: reading the Platonic dialogues. 3. ed ed. Bloomington: Indiana Univ. Press, 1996.
PLATÓN. Diálogos I. Apología de Sócrates — Critón — Eutifrón — Ion — Lisis — Cármides — Hipias Menor — Hipias Mayor — Laques — Protágoras — Gorgias — Menéxeno — Eutidemo — Menón — Crátilo — Fedón — Banquete — Fedro. Tradução: AA. VV. Madrid: Gredos, 2019.
LARSON, J. Ancient greek cults: a guide. Transferred to digital printing ed. New York: Routledge, 2009.
PLATÓN. Diálogos II: Gorgias, Menéxeno, Eutidemo, Menón, Crátilo. Tradução: Tradução: J.C. Ruiz et al. Madrid: Gredos, 2016.
GARCÍA BAZÁN, F. Plotino y la mística de las tres hipóstasis. Ciudad Autónoma de Buenos Aires: El Hilo De Ariadna, 2011.
XAVIER, D. G.; CORNELLI, G. (EDS.). A República de Platão – outros olhares. São Paulo: Loyola, 2011.
FRAILE, G. Historia de la Filosofía. Madrid: Biblioteca de Autores Cristianos, 1997.
GUTHRIE, K. S. Plotinus: Complete Works: In Chronological Order, Grouped in Four Periods. [single Volume, Unabridged]. [s.l.] CreateSpace Independent Publishing Platform, 2017.
SIDERSKY, D. Les origines des légendes musulmanes dans le Coran: et dans les vies des prophètes. Paris: P. Geuthner, 1933.
BUZZI, ARCÂNGELO. R. Itinerário: a clínica do humano. Petrópolis: Vozes, 1977.
FERREIRA DA SILVA, V. Transcendência do Mundo. São Paulo: É Realizações Editora, 2010.
FERREIRA DOS SANTOS, M. O Um e o Múltiplo em Platão. São Paulo: Logos, 1958.
DELEUZE, G.; GUATTARI, F. O anti-édipo: capitalismo e esquizofrenia 1. São Paulo: Editora 34, 2010.
CHATEAU, J.-Y. Le vocabulaire de Simondon. Paris: Ellipses, 2008.
CHANGEUX, J.-P.; RICŒUR, P. What makes us think? a neuroscientist and a philosopher argue about ethics, human nature, and the brain. Princeton, N.J: Princeton University Press, 2000.
CARNEIRO LEÃO, E. Filosofia Grega: uma introdução. Teresópolis: Daimon Editora, 2010.
DE ALEJANDRO, J. M. Gnoseologia. [s.l.] Biblioteca de autores cristianos, 1969.
DELEUZE, G. Crítica e Clínica. São Paulo: Editora 34, 1997.
VITA, L. W. Introdução à filosofia. Rio de Janeiro: Edições Melhoramentos, 1964.
DELEUZE, G.; L. ORLANDI; R. MACHADO. Diferença e repetição. Rio de Janeiro: Graal, 1988.
FLUSSER, V. O último juízo: gerações II – castigo e penitência. São Paulo: É Realizações Editora, 2017.
FLUSSER, V. Pós-história: vinte instantâneos e um modo de usar. São Paulo: É Realizações Editora, 2019.
WHITEHEAD, A. N. A Ciência e o Mundo Moderno. São Paulo: Paulus Editora, 2006.
ORTEGA Y GASSET, JOSÉ. Meditação da Técnica. Tradução: Luis Washington Vita. Rio de Janeiro: Livro Ibero-Americano, 1963.
DELEUZE, G. Le pli Leibniz et le baroque. Paris: Editions de Minuit, 1988.
MARCUSE, H. O homem unidimensional: Estudos da ideologia da sociedade industrial avançada. Tradução: Tradução: R. de Oliveira et al. São Paulo: Edipro, 2015.
BRETON, P.; RIEU, A. M.; TINLAND, F. La techno-science en question: éléments pour une archéologie du XXe siècle. Seyssel: Champ Vallon, 1990.
HARADA, H. De Estudo, Anotações Obsoletas: A Busca da Identidade Humana e Franciscana. Petrópolis: Vozes, 2021.
,

Luijpen, Teoria do Conhecimento