O filósofo das ciências Michel Serres (1994), é um dos autores solidário a essa constatação: o artefato tecnológico informacional e a rede de comunicações que interliga suas distintas implementações, impõem uma nova malha espaço-temporal, e podem vir a ter, desta forma, a capacidade de deslocar ou até mesmo dissolver as instâncias do político, do religioso, do direito, da cultura e do saber; as relações de poder, de violência e de força; o comércio e o dinheiro; enfim, as principais instâncias encarregadas desde a aurora da história, de fazer surgir e forjar a relação social.
Esta fascinação que exercem atualmente as mídias, segundo Serres, seria menos sobre o espetáculo de som e imagens que veiculam, do que sobre a descoberta estonteante de que existimos juntos, segundo relações que enfim construímos. Renasce a Utopia, o não-lugar da “realidade virtual”, o grande sonho de todos os tempos, de tecer de novo, na e pela tecnologia da informação, o “tecido social”, longe das relações de poder, de bens e de dinheiro, de meio geográfico…
Serres, no entanto, questiona com toda pertinência: quem comandará este “malha informacional”, o badalado Ciberespaço?; será, mais uma vez, o capital, que se reforçando, se tornando virtual e se apropriando deste mundo sem fronteira, irá conquistar a subjetividade e em definitivo o espaço, o tempo, as coisas, os seres humanos, o próprio devir?
Paul Virilio (1993) é outro pensador que também nos alerta para o risco da difusão progressiva de uma “cibernética sócio-política” que tende à excluir, não somente os mais fracos, mas o livre arbítrio do trabalho humano, em prol de uma “convivência interativa”, que nada mais é do que “uma servidão discreta do ser às maquinas ‘inteligentes’”.
Neste mesmo trabalho, Virilio considera que o ambiente “real”, o espaço das cidades e dos campos, não escapando mais à influência da informatização da Sociedade, será cartografado digitalmente, ampliado ao longo de uma dimensão simulada (o ambiente virtual do computador), analisado e monitorado eletronicamente, e, finalmente, sujeito às decisões e intervenções que se julgarem necessárias sob esta ótica puramente informacional.