A informatização contemporânea orienta-se segundo três referências teóricas que chegaram à maturidade por volta das décadas de 30 e 40 deste século. A primeira foi a de linguagem ou sistema formal. Noção central da lógica matemática, criada por Frege, Russell & Whitehead, Hilbert, e, em sua configuração atual, resultante dos trabalhos realizados por Gödel, Tarski, Church e outros nos anos 1930.

Um sistema formal é uma espécie de jogo de construção compreendendo diferentes categorias de peças. Por um lado estas peças se reúnem segundo regras relativas a sua forma. Por outro, cada peça é um símbolo, isto é, guarda certo sentido. E o jogo é concebido de modo que, quando peças são reunidas em virtude de sua forma, elas constituem um símbolo composto, que guarda um sentido que justamente resulta da combinação apropriada dos sentidos de seus componentes. Assim sendo, um sistema formal funciona segundo dois níveis, o da forma (nível sintático) e o do sentido (nível semântico), e seu interesse está no paralelismo que se estabelece entre estes dois níveis.

Formalizar a razão e a memória humanas comprometidas com atos e fatos não é apenas “ficcionar a facticidade: é ficcionar – produzir sob condições puramente técnicas – a abertura à si da facticidade, sua dimensão hermenêutica” (Milet, 2000, pág. 207).

É ficcionar a transcendência, no sentido que a entende Heidegger: não somente a abertura ontológica ao ente – enquanto ela inclui a teoria, e todas as variedade de explicitação do ente – mas a facticidade desta abertura, a qual se manifesta através de todas as formas do senso comum: o discernimento, a visão de conjunto à luz da qual ela se exercita, o golpe de vista que toma a dimensão de uma situação… tudo que se deixa reunir sob o título de techne. É ficcionar a explicitação (a abertura doa como tal) que se deixa declinar em: abertura hermenêutica (o entender ante-predicativo) e explicitação apofântica (fixando o próprio em um enunciado). E por conseguinte, produzir a techne sob condições puramente técnicas, é – por hipótese – conceber e construir maquinas de pensar. A possibilidade de uma tal automatização repousa sobre a possibilidade de “formalizar o comportamento”. (ibid, pág. 207)

Referências:

Tese de Doutorado em Filosofia (UFRJ, 2005)

DE CASTRO, M. C. O que é informática e sua essência. Pensando a “questão da informática” com M. Heidegger. UFRJ-IFCS, , 2005. Disponível em: <https://www.academia.edu/43690212/O_que_%C3%A9_inform%C3%A1tica_e_sua_ess%C3%AAncia_Pensando_a_quest%C3%A3o_da_inform%C3%A1tica_com_M_Heidegger>

Murilo Cardoso de Castro