A ciência e seu método, no dar-se e propor-se da informática, são os alicerces de sua constituição enquanto engenho de representação e de sua aplicação no processo de informatização. Em conformidade com o modelo de pesquisa científico, o essencial do método informacional-comunicacional é uma sucessão recursiva de passos em uma espiral: definição do problema, formulação de hipóteses, teste das hipóteses, retorno ao início com um avanço, a solução do problema original, mas com o aparecimento de outros problemas. Assim imagina-se que seguindo o método percorre-se a “espiral evolutiva” da ciência que se repercute como “teoria do real”, no aperfeiçoamento constante da constituição da informática e de sua aplicação.
Porque a ciência moderna é uma teoria neste sentido, adquire importância decisiva em toda a sua observação o modo de tratar da ciência, ou seja, a maneira de ela proceder, em suas pesquisas, com vistas ao asseguramento processador, numa palavra, o seu método. Uma frase de Max Planck diz: “real é o que se pode medir”. Isso significa: a decisão do que deve valer, como conhecimento certo para a ciência, no caso para a física, depende da possibilidade de se medir e mensurar a natureza, dada em sua objetidade e, em consequência, das possibilidades dos métodos e procedimentos de medida e quantificação. Esta frase de Max Planck só é correta por expressar algo que pertence à essência da ciência moderna e não apenas das ciências naturais. O cálculo é o procedimento assegurador e processador de toda teoria do real. Não se deve, porém. entender cálculo em sentido restrito de se operar com números. Em sentido essencial e amplo, calcular significa contar com alguma coisa, ou seja, levá-la em consideração e observá-la, ter expectativas, esperar dela alguma outra coisa. Neste sentido, toda objetivação do real é um cálculo, quer corra atrás dos efeitos e suas causas, numa explicação causal, quer, enfim, assegure em seus fundamentos, um sistema de relações e ordenamentos. Também a matemática não é um cálculo com números para se obter resultados quantitativos. A matemática é um cálculo que, em toda parte, espera chegar à equivalência das relações entre as ordens por meio de equações. E por isso mesmo “conta” antecipadamente com uma equação fundamental para todas as ordens possíveis.
Em um ensaio pouco conhecido sobre arte, dado durante uma viagem à Grécia em 1967, Heidegger falando do caráter cibernético da tecnologia moderna, cita Nietzsche: “A vitória da ciência não é o que distingue nosso século XIX, mas ao invés disto a vitória do método científico sobre a ciência.” Método aqui significa a maneira na qual a esfera de objetos a ser investigado é demarcada de antemão, assim como é fixado o que Heidegger denomina a “objetidade” do investigado.
O método informacional-comunicacional opera uma pro-posição da razão e da memória humanas sobre si mesmas, como objetidade passível de dis-po-la como uma representação do pensar; certamente naquilo que pode ser reduzido do logos, à lógica dos enunciados sobre uma coisa qualquer. Através deste processo, esta representação lógica se formula como algoritmos e o conteúdo dos enunciados sobre o qual opera a lógica, se configuram como dados simbólicos. O que se denomina usualmente “sistema de informação”, constituído segundo este método apresenta-se como uma “máquina universal de cálculo” onde tudo que foi codificado em sua “língua técnica” pretende demonstrar certa “inteligência artificial”, obtendo diferentes resultados.
Decisiva é a transformação do espírito em INTELIGÊNCIA: qual seja a simples habilidade ou perícia no exame, no cálculo e na avaliação das coisas dadas, com vistas a uma possível transformação, reprodução e distribuição em massa, sujeita em si mesma à possibilidade de uma organização, o que não vale para o espírito. Todo o literatismo e estetismo são apenas uma consequência ulterior e uma degenerescência do espírito falsificado em inteligência. O mero engenho, o apenas espirituoso, é aparência de espírito e a tentativa de esconder a sua ausência. .
Jean Ladrière também assegura que:
Assim como há uma construção do objeto matemático, há também uma construção do objeto físico e do objeto científico em geral. Enquanto tal, o objeto científico só existe em virtude das operações pelas quais lhe damos consistência: só se encontra presente como objeto numa representação por modelo. Sem dúvida, os mais representativos “artefatos” desse aspecto de construtividade são as máquinas e, sobretudo, as máquinas sofisticadas que, por uma metáfora que é muito significativa, chamamos de as “máquinas pensantes”. Tais máquinas imitam efetivamente, numa certa medida, alguns aspectos do comportamento humano e, notadamente, os aspectos lógicos desse comportamento. Trata-se de máquinas pensantes, mas não de máquinas celebrantes.