Excertos de “A Filosofia Contemporânea Ocidental”, de I.M. Bochenski
A metafísica (que Whitehead não distingue da ontologia) consiste numa descrição da realidade, da qual devem sair os princípios gerais de toda explicação. A tese capital da doutrina de Whitehead neste domínio é a afirmação de que a compreensão do atual exige uma referência ao ideal. Da análise do dado resulta, efetivamente, que o atual ou real é um fluxo de acontecimentos, um devir eterno onde não há substâncias nem coisa alguma realmente duradoura. Whitehead professa um dinamismo radical. Mas, segundo ele, o fato de aparecer este ou aquele acontecimento requer explicação. Pelo que, é preciso aceitar a existência de numerosos fatores metafísicos, que em geral não são entes. Em primeiro lugar, deve haver objetos eternos (eternal objects), possibilidades para o que devêm; são as ideias de Platão, mas concebidas como puras potencialidades objetivas. Em segundo lugar, a análise põe a descoberto um cego impulso criador, a creativity, que parece ser, a um tempo, causa eficiente e matéria do devir. Tudo devêm graças ao impulso desta “substância” (no sentido de Spinoza) totalmente indeterminada em si. Enfim, como nem os objetos eternos nem a creativity são determinados nem podem explicar o aparecimento do concreto, é mister admitir a existência de um terceiro fator, atual e temporal, a saber, o princípio de limitação (principle of limitation), que delimita e determina o que devêm. Este princípio é Deus. O devir cumpre-se de maneira que, mercê do impulso criador da substância em colaboração com o acontecimento já existente, daí resulta uma nova captação sintética. Esta é dupla: o acontecimento criado abarca numa síntese tanto os objetos eternos (que nele entram, ingressam positiva ou negativamente) quanto os aspectos dos demais acontecimentos reais. Deus determina o que deve aparecer, quando estabelece limites e torna assim possível a determinação. O acontecimento é o indivíduo real, o superject, o atual, que é um valor. Porque toda atualidade concreta é um valor.
Deste modo, cada acontecimento constitui em si, em forma particular, uma síntese do universo, abarca todos os aspectos do mundo real, todos os objetos eternos, o impulso criador e Deus. Portanto, Deus é imanente ao mundo. Não obstante, o acontecimento é sempre algo mais do que o mundo que o precedia: possui sua individualidade peculiar e cria uma atualidade nova e um novo valor.