Bochenski: Teoria do conhecimento de Whitehead

Excertos de “A Filosofia Contemporânea Ocidental”, de I.M. Bochenski

Whitehead admite o objetivismo, enquanto pensa que o mundo contém, de verdade, atos de conhecimento, mas não só estes atos. Aduz para isso três razões: nossa experiência perceptiva mostra-nos que nos encontramos num mundo muito mais vasto do que nós – a história nos ensina a existência de um longo passado anterior à nossa própria existência – e a ação humana pressupõe uma transcendência. Todavia, com isto ainda não fica decidido de que lado está a razão: se do lado do realismo, se do lado do idealismo. Whitehead, apesar de tudo, declara-se em favor do primeiro, e valendo-se de sua teoria da captação (prehension) rejeita todas as objeções idealistas. O princípio da imanência, segundo o qual não conhecemos senão aquilo que está “em” nós, é caduco, visto que se baseia na concepção materialista do isolamento das coisas. De fato, graças à captação, todo acontecimento se ultrapassa a si mesmo. É verdade que conhecemos aqui as coisas que se encontram ali, mas nem por isso as conhecemos menos. É inteiramente natural que haja deformações no conhecimento e que sejamos influenciados por condições subjetivas, uma vez que conhecemos os outros acontecimentos na medida em que são parte de nós mesmos.

Completemos este sucinto resumo da teoria do conhecimento de Whitehead ao menos com uma referência de suas ideias sobre a indução e a causalidade. Do ponto de vista da filosofia do organismo, a indução consiste na transição de caracteres individuais a uma caracterização geral de uma comunidade de casos (occasions). A indução não é processamento racional, mas uma espécie de adivinhação. Não descobre leis imutáveis do universo, mas caracteres particulares de uma comunidade limitada no espaço e no tempo. No que se refere à causalidade, ê mister salientar o fato de que possuímos um duplo conhecimento imediato, a saber, o dos dados sensíveis (sense-data), que Whitehead denomina “imediatidade apresentadora” (presentational immediacy), e o da causalidade. A doutrina tradicional não admite senão o primeiro e considera a causalidade como uma hipótese ou uma consequência. Na realidade, porém, a eficiência causal (causal efficacy) é percebida diretamente; não tem nada de superestrutura mental, mas fundamenta o conhecimento mediante a imediatidade apresentadora.