Marx (Ideologia) – Teoria materialista do conhecimento e formação da ideologia

A produção das ideias, das representações, da consciência está, à primeira vista, diretamente associada à atividade e ao comércio materiais do homem: ela é a linguagem da vida real. Aqui, a maneira de imaginar e de pensar, o comércio intelectual dos homens ainda aparecem como a emanação direta de sua conduta material. O mesmo ocorre com a produção intelectual, como ela se manifesta na linguagem da política, das leis, da moral, da religião, da metafísica etc., de um povo. Os homens é que são os produtores de suas representações, de suas ideias etc., mas os homens reais, laboriosos, condicionados por um desenvolvimento determinado de suas forças produtivas e do comércio que corresponde a elas até em suas formas mais extensas, A consciência nunca pode ser algo além do ser consciente, e o ser dos homens é seu processo de vida real. Se, em toda ideologia, os homens e sua condição aparecem de cabeça para baixo como numa câmera obscura, este fenômeno decorre de seu processo de vida histórico, bem como a inversão dos objetos na retina provém de seu processo de vida diretamente físico.

Ao contrário da filosofia alemã, que desce do céu para a terra, aqui nos elevamos da teoria para o céu; em outras palavras, não partimos do que os homens dizem, imaginam, representam, nem tampouco do que se diz, se pensa e se imagina e se representa a respeito deles, para chegarmos ao homem de carne e osso; é considerando-se os homens realmente ativos e seu processo de vida real que expomos o desenvolvimento dos reflexos e das ressonâncias ideológicos desse processo. As brumosas formações do cérebro humano também são necessárias sublimações do processo material da vida delas, empiricamente verificável e ligado a circunstâncias materiais prévias. Por conseguinte, a moral, a religião, a metafísica e todo o resto da ideologia, assim como as formas de consciência que correspondem a elas, não conservam mais seu semblante de independência. Elas não têm nem história nem desenvolvimento; ao contrário, são os homens que, ao mesmo tempo que desenvolvem sua produção e sua comunicação materiais, transformam, com esta realidade que lhes é própria, seu pensamento e os produtos deste. Não é a consciência que determina a vida, é a vida que determina a consciência.

K. Marx, F. Engels, A ideologia alemã (traduzido para o francês por Maximilien Rubel, Pléiade, pp. 1506-7)