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computador

O computador é um sintetizador de ilusões informacionais sobre o qual se manifestam as chamadas aplicações da informática, onde as estruturas de dados simbólicos pretensamente representativos de qualquer ato ou fato humano, estruturas estas operadas por algoritmos, formam uma “com-posição [Ge-stell] programática” (dados simbólicos + algoritmos) que pretende mimetizar modalidades ocupacionais do “ser-no-mundo”, ou apenas a partes ou um simples aspectos dele, após uma espécie de desconstrução e reconstrução, destas ocupações do ser-no-mundo, ou partes, ou aspectos dele, sob o modo digital de um modelo dito “informacional”. Em resumo, o computador é um engenho de representação.

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informatização

A informatização pretende assim ser a realização do real pelo virtual. O virtual realiza o real, no sentido de “tornar real” o real. Uma incongruência que, cada vez mais, faz sentido para um contingente crescente da humanidade conectada como periférico de tecnologias da informação, interligadas pela teia da Internet.

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informática

O “dar-se e propor-se da informática” culmina todo o avanço tecno-científico moderno, na expressão de um engenho de representação informacional/comunicacional, produto e produtor de um meio técnico-científico-informacional, dentro do qual a humanidade é cooptada, conduzida e regida pela exigência crescente dos ditames extra-técnicos da tecnologia neste dar-se e propor-se.

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dados

Uma representação de dados é a “tradução” de entes intramundanos em símbolos e algoritmos operadores destes símbolos, pretendendo resumir o objeto original a seu simulacro digital. Este simulacro é assim capaz de ser tratado por uma cadeia de processos de coleta, captura, organização, armazenamento, processamento, apresentação e distribuição através de tecnologias da informação e da comunicação.

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representação

Diferenciando-se do percepcionar grego, o representar moderno, cujo significado é expresso aproximadamente pela palavra repraesentatio, quer dizer algo muito diferente. Re-presentar significa aqui trazer para diante de si o que-está-perante enquanto algo contraposto, remetê-lo a si, ao que representa, e, nesta referência, empurrá-lo para si como o âmbito paradigmático. Onde tal acontece, é o homem que, sobre o ente, se põe como imagem. Mas na medida em que o homem, deste modo, se põe como imagem, ele põe-se a si mesmo em cena, isto é, no círculo aberto do que é universal e publicamente representado. Com isso, o homem põe-se a si mesmo como a cena, na qual o ente doravante se tem de re-presentar, presentificar [präsentieren], [114] isto é, ser imagem. O homem torna-se no que representifica [Repräsentant] o ente, no sentido do que é objetivo. [Heidegger, GA5]

A segunda referência teórica é a teoria da informação. A teoria matemática que Claude Shannon expõe em 1948, apoiando-se sobre ideias que já circulavam há uns vinte anos, formaliza um dualismo, o significado e seu suporte material, rompendo com a estrutura clássica de forma-matéria. Seu objetivo é dar uma solução matemática e estatística à transmissão ou comunicação de mensagens por canais imperfeitos, garantindo sua conservação na passagem de um suporte físico para outro. Deste modo, define-se a informação, sem qualquer consideração sobre o sentido que possa ter, mas apenas como algo calculado; algo que defina estatisticamente a capacidade de transporte de um canal de transmissão.

Os modernos suportes ou mídias da informação acentuam este movimento, que da escritura ideográfica à escritura alfabética, afastaram o signo do sentido. Com o alfabeto as letras só ganham sentido pela combinação em palavras, e este sentido ainda assim precisa de um ato de leitura e de interpretação. Esta passagem do ideográfico ao alfabético reduziu o número de signos de milhares a dezenas. A informática vai radicalizar este movimento, se contentando com apenas dois signos de um sistema binário.

A escolha fundamental da informatização, enquanto “maquinação1) informacional-comunicacional”, foi precisamente de tornar absoluta esta noção reduzida de informação. As peças ou símbolos dos sistemas formais considerados pela informatização não guardam em si um significado, no sentido habitual, mas são apenas informações, compreendidas objetivamente, quer dizer, apreendidas como um objeto ou um estado de fato, e assim capazes de maquinação.


  1. Na Machenschaft, a maquinação, fusionam a mechane, a maquina, e o machen, o fazer. A palavra designa portanto, no sentido mais amplo, a fabricação, poiesis, a manobra como manejo e manipulação. No sentido mais especificamente moderno, designa o caráter global do fazer, a manobra como conjunto de manejos contra “a terra”. Mas no sentido mais estreito, a maquinação, é a maquinalização. A fusão do “manual” e do “mecânico, é a automatização. (Schürmann, 1982, pág. 223 ↩

Essência da Informática